quinta-feira, 6 de maio de 2010

Dança para Todos!

Durante a história da cultura humana o homem primitivo dançava em rituais para evocar poderes mágicos conferidos à natureza ou suas crenças. Na idade média e renascença as danças estavam disponíveis à todo o povo nas festas populares, folclóricas, e é de onde parte dos passos de balé se originam.
Séculos mas adiante a aristocracia que iria praticar seu poder e hierarquia nas danças da corte e bailes nos palácios. Aos poucos, misturada ao teatro, poesia e música eram criadas as cenas, os divertimentos e por fim a organização de passos e poses em métodos, a formalização de uma escola. No início do século 18 foi surgindo a figura do bailarino profissional, o ofício.
A dança cênica predominou no período romântico até parte do século XX com um conteúdo bastante virtuosístico, e se o sujeito não for bom o suficiente para ser um bailarino profissional sob esses critérios ele não poderá dançar (ou será professor)...
Isso só foi mudar com o advento da dança contemporânea que surge com outras propostas de relações corporais, temporais e espaciais não só baseadas no virtuosismo técnico de apenas um modelo da dança.
Por incrível que pareça vivemos hoje sob a ótica desse pensamento plural e no mundo de hoje é absolutamente possível que todo mundo possa dançar.
Todos os corpos estão aptos ao movimento dançante pois não é mais necessário fazer 32 piruetas seguidas para ser considerado um bom bailarino... além de que há muitas opções de escolhas estéticas, ninguém precisa ficar preso a apenas uma única opção.

Dança sem preconceito? isso sim é arte!
Independente da idade, físico, cor, credo, raça, peso, sexo, situação socio-econômica há espaço para quem quiser praticar... E quem disser o contrário está mentindo. A única condição? é ter vontade. Isso já é suficiente e não importa qual o estilo escolhido. Se você tem vocação ou não e até onde você irá chegar com isso são outras questões... Apenas faça aquilo que lhe dá prazer.

Idéias em movimento, gente que também pensa a dança:


• Em cima à esquerda: Grupo de Ballet formado por bailarinos cegos de Fernanda Bianchinni, que não é cega mas além de bailarina é fisioterapeuta e desenvolveu uma metodologia própria de ensino dos passos baseada nos sentidos táteis, auditivos e percepção corporal. Criou uma ONG que leva seu nome e conta com apoio de empresas privadas para continuar seu trabalho em São Paulo/SP.

• Em cima à direita: Imagem do grupo DanceAbility em uma de suas apresentações que mistura artirstas protadores e não portadores de deficiência física.

• Embaixo à esquerda: Em Nova Iorque uma escola oferece aula de ballet para adultos com mais de 60 anos de idade.

• Embaixo à direita: Angel Corella, Ethan Stiefel, Nikolay Tsiskaridze e Johan Kobborg são os 4 bailarinos clicados. Com formação clássica todos atuam profissionalmente em companhias internacionais como solistas e estrelas. Homens que não tem medo de preconceitos machistas e sexistas... Se você é homen e precisa tomar coragem para iniciar seus estudo deixo o excelente blog Ballet for Men (em inglês)

• Alguém já notou que nas grandes cias. internacionais a esmagadora maioria dos bailarinos é formada por caucasianos? É por isso que nasceu a Ballet Black, uma cia. de dança profissional inglesa formada apenas por negros, asiáticos e descendentes destas etnias (sem foto), bem semelhante a proposta dos norte-americanos do Dance Theatre of Harlem, fundado em 1969.

• Abaixo um vídeo do grupo inglês DV8 Physical Theatre que eu gosto muito, e também trata a questão do que é um "corpo normal", num pas de deux fenomenal.



A revolução será estética.
Quando boa parte dos alunos de um curso de dança é formado por psicólogos você é pego por um pensamento: a psicologia falhou ao salvar o ser humano? Assim como fizeram as ideologias? Então cabe a dança salvar. O futuro só pode estar nas artes. E como isso tudo pode ser político também!

Foto: Bailarinas do Dance Theatre of Harlem.

*****

Esse texto foi escrito para comemorar o dia internacional da Dança, na semana passada perdi meu computador e tiver que reescrevê-lo inteiro, por isso o atraso.
Pra mim o mês de Abril de 2010 foi muito além do corre corre habitual. Além de dar mais aulas que o normal foi um período intenso em acontecimentos carregados de novas idéias, encontros, pessoas e novos caminhos a trilhar.
Ministrar aulas para adultos até 65 anos de idade vindos de todas as faixas socio-econômicas (curso do Sesc que finalizou), entrar em contato com o trabalho de educação feito nas penitenciárias do Brasil, visitar uma pequena instituição que presta serviços gratuitos para portadores de deficiências físicas e mentais severas e fazer o curso de Butoh-Ma me fizeram olhar de uma forma nova para questões como técnica e quem é o público alvo da dança.
Enfim, foi sofrido mas só mesmo pensando a dança é que mudamos como ela é feita, por quem, por quê e para quê.
Crescimento, renovação, mudança de paradigmas. É aquela velha história tudo que está vivo tem que estar em movimento, é a tranformação que nos faz vivos. E isso é uma lei: parar = morrer. Eu já conheço bem o poder de transformação que a dança tem. Daí comecei a pensar no poder de transformação de vidas, de futuros que é também um poder social enorme.
Fazer dança e fazer diferente, um fazer atualizado com nosso tempo e nossa realidade.

8 comentários:

  1. Ana,
    A Dança sempre teve um sentido religoso super forte. Isso na história cultural de quase todos os países.
    Para mim, eu sinto uma força diferente quando danço... ainda não consegui alcançar um nível a mais dançando, mas sei que a prática levará a isso... rs. certeza mesmo.
    É uma atividade que nos coloca em contato com algo além... não sei dizer.
    Por enquanto, a coisa não é automática, ainda precisa muito raciocío para se desprender, mas um dia, quando tudo for natural, certeza que se tornará "quase que espiritual".
    Beijos
    lelê

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  2. adorei a postagem, ficou muito bom, parabens!

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  3. Muuuuuuuito bom o post! Abri todos os links, o vídeo está carregando, quero ver tudo com calma. Adorei esse "pensar a dança" de mil maneiras possíveis. =)

    Imenso beijo.

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  4. Obrigada pelas palavras meninas!!! Adoro levantar idéias e polêmicas tb, rsrsrs.

    Lelê, adorei vc ter citado o sentido religioso, pois é uma coisa fortíssima q eu sinto tb quando estou fazendo dança. Beijo.

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  5. Estou emocionada com este post! Lindo o texto e o trabalho dessas companias de dança!
    beijos!

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  6. Oi Ana, não entrei pra ler seu post no momento,mas sim para te dizer: MUITO OBRIGADA PELO PRESENTE.

    Acabei de chegar em casa e vi a encomenda.

    Lindo os cards com imãs. E o poster então...Eles tem destino certo, se o universo conspirar a favor, na minha escola de ballet.

    Beijos te adoro

    P.S.: Vou ler seu post depois, pois estou fazendo janta- 21:07h

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  7. Ainda sonho com o dia em que verei, em uma grande companhia tradicional, uma bailarina negra fazendo o papel Odille/Odette. O Carlos Acosta já conseguiu quebrar essa barreira. Espero pela versão feminina.
    Parabéns pelo post e pelo blog.

    Karin

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  8. Karin, é bem verdade, já está em tempo do mundo crescer. E obrigado!

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