sexta-feira, 25 de fevereiro de 2011

A bola da vez ou uma onda comercial?

Pois bem, em duas diferentes ocasiões no último mês, fui questionada sobre a questão do balé, em especial do balé para adultos, e sobre se deveria entrar ou não nos limites das academias de ginástica.

Respondi que de maneira geral há uma forte tendência de mercado, impulsionada por diversos motivos e é claro pelo cinema também, que leva seu foco às escolas e aulas de balé, da mesma forma que já aconteceu com outras danças em outras épocas.

A moda agora é fazer balé, sendo assim a demanda pede e surgem novos nomes, escolas, anúncios publicitários, produtos, modalidades, caronistas... Há de se ter um olhar aguçado para distinguir o que é tudo isso. Feito por quem, para quem, com qual objetivo, e principalmente: como.

Qualidades e diferenças.
Quanto a dança (e o balé) estar presente na grade das academias reflete mais essa tendência de mercado do que qualquer preocupação artística. O que me preocupa é a superficialidade com que é desenvolvido. Me desculpem aqueles que defendem as academias ou que vivem disso, mas o ambiente para a dança se desenvolver é outro (bem mais estóico num certo sentido) e pensar em balé como fitness é empobrecer seu potencial.

Numa academia busca-se a boa forma a qualquer custo, além da saúde o objetivo é visual, a aprência, um corpo sarado, com curvas e músculos na medida certa, no lugar certo. Adrenalina, corpos suados e a mostra, muito flerte, tudo isso num ambiente regado a música eletrônica no último volume, disfarçam a monotonia dos exercícios repetitivos. Ninguém faz balé pensando nesses objetivos.

Os ambientes, os meios e os objetivos se conflitam. Contra uma centena de equipamentos modernos ligados na tomada, na sala de dança há só o chão, o som e uma barra, o corpo é o equipamento primordial, e quem sabe um par de sapatilhas de ponta. Quem vêm a procura de dança está querendo outra coisa além de ter um "corpo perfeito", é uma outra busca, uma outra construção, outro tipo de processo que envolve um sentido maior, bem longe de ser a atividade física perfeita (e mesmo que for), pois é uma forma de arte.

Mente-Corpo
Integrar, sentir, expressar, criar, dividir, inspirar, descobrir, unir, trocar, desafiar, mostrar. E é a maneira que tudo isso acontece que é o diferencial, e encanta os novos aspirantes da dança.

Experimentar dança é experimentar o tempo. É entrar em contato direto e profundo consigo, é estudar o corpo de maneira sensível e junto com ele aprender uma centena de tipos de movimentos e variações, com suas infinitas combinações, criando uma sabedoria particular além de se conectar a outros corpos também.

Um professor sério quer levar seus alunos de encontro à esse rico universo, não interessa ter "clientes". O estudo do balé envolve anatomia, nomenclatura, repertório, história da dança, não é só chegar lá esperando dar piruetas e fim, há mais coisas que fazem parte.

Acredito sim, e sempre repito, que qualquer um que queira pode dançar, com alguns cuidados e tendo orientação de um bom profissional ao seu lado, mas saiba onde está pisando. Muita gente embarca na euforia da "onda da momento", mas poucos realmente sabem o que é isso, e me conforta saber que as modas passam, que o tempo peneira o que é realmente verdadeiro, perdurando em seu espaço vitalício, mesmo que bem longe das demandas de mercado.


O espaço livre, os movimentos, a música, a vestimenta... é encantador?


Foto: Paula Lobo.

4 comentários:

  1. Falou tudo Ana!
    Infelizmente tem gente que ainda não entendeu o real significado do ballet na vida adulta!
    Beeijos!

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  2. É verdade May, tem muita confusão nos pensamentos por aí e isso me cansa. No geral tb acho que falta qualidade no que se propoem.
    Bjo grande,

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  3. Concordo com tudo e em especial em um aspecto muito relevante, quem dança e realmente ama o ballet, não o faz em busca de corpo sarado, flerte ou qualquer coisa que remeta a uma academia de ginástica!Também não julgo quem ingressa na dança como forma de descontração, boa postura e regularidade em uma atividade física, porém devemos considerar academias e academias...bjks Aline

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  4. Ufa... bom saber que eu não penso assim sozinha. Bjo grande Aline!!

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