quarta-feira, 6 de maio de 2009

Técnica, dificuldades e resultados no Ballet

Todos os dias eu ouço todos os tipos de indagações das minhas alunas. São mulheres adultas, na faixa etária de 25 a 40 anos, muitas casadas, todas trabalham. Chegam a noite, já um pouco cansadas do dia que tiveram de enfrentar, mas vieram para mais uma aula de Ballet.
- "Por que Ballet é tão difícil?", "não tenho força", "minha perna não estica","estou gorda", "sou baixinha", "tenho pé chato"...
Por mais que eu acredite na dança e no ballet como uma forma de arte, divertida, anatomica e reestruturante tem alguns outros aspectos que tenho que explicar. Bom, pelo menos eu posso dar algumas dicas a esse respeito.
Primeiramente tenho que dizer que por baixo dos esvoaçantes e leves tutus os músuclos estão acionados, trabalhando com muita força (muita mesmo!), mas a gente acaba não vendo. FORÇA = ESFORÇO, e inclúi muito suor.
Ou seja, aquele velho chavão: "no pain, no gain". Sem esforço eu não construo nada.
Também noto que há uma diferença entre compreender as informações corporais que são pedidas e entender uma ordem verbal (outro chavão "mente versus corpo").
Todos os gestos de dança (desde o "simples" en-dehors) devem ser produzidos internamentes e não copiados por sua forma. É muito importante sentir, sentir o corpo, sentir a parte que está sendo requisitada bem antes de iniciar qualquer movimento, base inicial.
Usando o velho remédio chamado TEMPO tudo acontece! É uma equação infalível.
Tem que saber esperar, segurar a ansiedade e continuar praticando sem desanimar. Sempre focando mais no momento atual, no trabalho propriamente dito, em cada dia, cada aula, cada pequeno exercício. E tentar abandonar um pouco aqueles modelos "prontos", de bailarina do mundo dos sonhos.
Se o aluno parte do princípio "quero ser igual a bailarina x", coitadinho (a)... tem uma grande chance de se frustrar a curto prazo.
É preciso ter pé no chão e trabalhar com aquilo que é concreto, e real. Lógico que aquele sonho que te impulsiona nunca deve ser abandonado... Mas é recomendável se olhar no espelho e com humildade se ver e se aceitar em primeiro lugar, com todas as suas qualidade e defeitos.
Pode se pergutar: Como sou hoje? Quantas vezes por semana posso dedicar ao trabalho corporal? Quais minhas maiores dificuldades? E minhas facilidades? Que coisas posso fazer para melhorar? Faço algo efetivamente para que melhorem? Por que faço isso mesmo?
O bom processo de aprendizado, aquele profundo e consciente, que te faz entender e pensar corporalmente é sempre LENTO. Claro que um bom professor é fundamental pra tudo isso. Duvide das promessas instantâneas, pode se tratar de propaganda enganosa... e aí que nascem as lesões, físicas e psíquicas.
Tudo que envolve o corpo é a longo prazo, caso contrário seria superficial e em poucas semanas perderíamos os resultados conquistados em anos.
Vamos a uma comparação simplificada, lembra da "bailarina cor-de-rosa dos sonhos"? Então, ela também, apesar de parecer tão perfeita, trabalhou, suou, se cansou, sofreu, repetiu, chorou, teve dores, por pelo menos 15 a 20 anos da sua vida para parecer assim como vemos hoje: absolutamente tão perfeita. Agora pense, por que alguns de nós se acham melhores que os outros? ou melhor, não querem respeitar o tempo e o corpo.
Quem dança, qualquer que seja a dança, tem ou teve que investir muito, tempo, dinheiro e estudo pra chegar onde está, nada vem de graça.
Algumas coisas no nosso mundo tem regras, e o corpo é uma delas. Não posso chegar e infringir algo novo de forma brusca. É um jogo sutíl de contrução calcado no tempo e na ação.
Com o tempo tudo acontece: a gente vai integrando a mente e o corpo, amaciando os músculos, vai se conhecendo mais, consegue memorizar mais passos, vai ficando mais ágil, forte e alongado, e finalmente tudo vai parecer mais "fácil".
Mas tem que ser constante para desenvolver essa "memória corporal", um mínimo de 2 aulas por semana eu penso. Pode sim demorar mais ou menos tempo para cada um se desenvolver – isso dependendo da pessoa, da sua constituição física, experiência, da sua capacidade de incorporar os comandos, mas só o processo individual é que vai dizer.
Sem fazer, sem experimentar, investigar, investir, sentir, ouvir, sem estudar muito e repetir de maneira inteligente, as transformações dificilmente acontecerão.
Afinal não é apenas uma nova linguagem de passos que estamos aprendendo, mas uma nova maneira de usar o nosso corpo, com apoios internos, alavancas, rotações, posturas e tensões que não estamos acostumados.
Transformar o corpo a longo de anos, mesmo que milimetricamente, é o que fazemos a cada aula, através da dança. E é um mergulho interno que poucos se propõem.
Resumindo em poucas palavras: ESFORÇO, FAZER e TEMPO.

Por baixo da leveza: tem muita força! (na foto: Cecília Kerche)

7 comentários:

  1. Ana!
    Adorei o blog... vou dar um pulinho aqui de tempos em tempos para ler algumas "dicas" a mais...
    É sempre importante ir muito além das aulas... não?
    Você é uma professora fantástica!!
    Beijo, Le (vulgo Lets...).

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  2. Le querida!
    Que bom ter vc por aqui!
    Estudar nunca é demais ainda mais quando tem haver com a construção de um sonho de vida né?!
    Amo o que escolhi então o trabalho fica delicioso, com humildade e dedicação.
    Bjs!!!

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  3. Ana adorei esse post seu..realmente serviu muuito pra mim....achei mto boa essa ideia dos blogs!!!!
    A foto da cecilia kerche ta demais de linda..AMEI!!

    Beijos enormes.

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  4. Legal né Fe?! uma forma da gente trocar mais idéias, já que na aula o tempo nunca é suficiente pra tudo... rsrsrsrsrs
    beijo grande!

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  5. Este comentário foi removido pelo autor.

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  6. Ai... as sapatilhas eu sei onde vende. Mas, e a paciência?
    Preciso por demais disso :)

    Bjos
    Clara

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  7. É Clara, é isso mesmo! É fácil comprar uma sapatilha mas observe se é ballet mesmo que vc gosta, pode ser uma fase, você pode se identificar mais com outro tipo de dança... ballet é assim mesmo e tudo depende do resultado que vc deseja obter. Não há como "pular" a cosntrução de anos de prática/conhecimento corporal.Pense bem e boa sorte!

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